23 de junho de 2019 - Antonio Carlos Teixeira Alvares

CASOS INTERNACIONAIS DE INOVAÇÃO HORIZONTAL

O objetivo deste texto é mostrar o sucesso obtido por empresas internacionais na democratização da inovação entre todos os seus colaboradores (Inovação Horizontal).
São apontados os casos de cinco empresas: Subaru Indiana; Whirpool; Toyota; Cemex e Google.

  1. Subaru Indiana Automotive

Subaru Indiana Automotive (SIA) está estabelecida em Lafayette Indiana e é o braço americano da japonesa Subaru. A produção em 2018 foi de 349 mil automóveis com 5.900 funcionários

Em 2002 a matriz japonesa deu a incumbência à SIA de produzir lixo zero até 2006. A administração da SIA sabia que para tanto seria necessário o envolvimento do pessoal do chão de fábrica uma vez que eram eles que lidavam com os materiais (embalagens, solventes, sucata de aço etc.) que depois de usados viravam lixo.

A SIA investiu pesado em treinamento, introduzindo conceitos simples que desencadearam um grande número de pequenas ideias para eliminar o descarte de lixo. Muitas ideias, algumas extremamente simples, reduziram a utilização de materiais da empresa. Uma, por exemplo, foi receber as peças em caixas sem tampa. Já que elas eram entreguem em paletes embrulhados mesmo, não havia a necessidade de tampas (1).

O caso SIA registra um fato muito interessante, as grandes mudanças vieram de milhares de ideias do pessoal do chão de fábrica, especialmente treinados para isso. Enfim, os funcionários da linha de frente tiveram um grande número de ideias que deram origem a muitas inovações horizontais. A SIA enviou o seu último carregamento de lixo para um aterro sanitário em maio de 2004, dois anos antes do seu prazo, reduzindo também os seus custos operacionais anuais em milhões de dólares.

  1. Whirpool

A Whirpool é uma organização global produtora de eletrodomésticos com 70 plantas espalhadas nos cinco continentes, vendas líquidas de US$ 21 bilhões em 2018 e 92.000 funcionários. A Whirpool é constantemente classificada como uma das organizações mais inovadoras tanto nos EUA como no Brasil.

Em 1999 o então CEO da Whirpool ficou preocupado de que a indústria de eletrodomésticos estivesse se transformando rapidamente em um negócio de produtos básicos O lema que adotou foi “Inovação a partir de todas as pessoas e lugares”. Trata-se de um feito impressionante uma vez que já naquela época a empresa tinha 50 fábricas e 68 mil funcionários (2).

A Whirpool desde então não parou de introduzir continuamente novos produtos. Os novos produtos foram apresentados ao mercado em muitas cores diferentes e com novas características de alta tecnologia que aumentavam muito o seu desempenho.

Na antiga Whirlpool, toda a inovação vinha da engenharia, P&D, ou desenvolvimento de produto. Mas quando o esforço de inovação alcançou as linhas de frente, os trabalhadores também apresentaram ideias muito inovadoras que deram origem a inovações horizontais.

  1. Toyota

Toyota dispensa apresentações. Líder mundial do setor automobilístico, com vendas em 2018 de 10,4 milhões de unidades de veículos, possui atualmente 340 mil funcionários.

Em 1951 a Toyota, então uma pequena empresa, implantou o seu sistema de sugestões com o nome de Ideia Criativa Toyota (3). Pode-se afirmar que o mundialmente conhecido Sistema Toyota de Produção deve o seu sucesso em grande parte ao seu sistema de sugestões que o precedeu em dois anos. Foi em 1953 que Taiichi Ohno adotou na ferramentaria da Toyota o sistema de puxar a produção. Esse sistema chamado de kanban é considerado, no Japão, o símbolo virtual do sistema Toyota de Produção. A sintonia fina que fez o Sistema Toyota de Produção realmente funcionar não veio da administração superior, nem dos engenheiros, mas do chão de fábrica em forma de sugestões dos operadores

Sem dúvida a Toyota foi uma empresa precursora no conceito de Inovação Horizontal ao promover, com o seu vitorioso sistema de sugestões, a inovação, a partir de todas as pessoas e lugares da organização, especialmente do chão de fábrica.

  1. Cemex

Cemex é uma empresa mexicana, uma das líderes mundiais na produção de cimento Vendas liquidas de US$ 14,3 bilhões e conta com 45.000 funcionários. Possui centenas de plantas distribuídas particularmente na América do Norte, Europa e Ásia.

É uma empresa de um setor maduro e de baixa tecnologia, no entanto, tem sido sistematicamente apontada como uma organização extremamente inovadora.

No início da década de 1990, o CEO da CEMEX decidiu que a empresa deveria competir pela inovação. Resolveu para tanto investir nas habilidades dos seus “soldados rasos”. Essa decisão produziu uma enorme capacidade de inovação em toda a corporação. Na CEMEX a inovação é uma atitude coletiva. As novas ideias pertencem a todos. Em uma das inovações radicais de modelo de negócio, a CEMEX garante a entrega de uma betoneira de concreto em qualquer ponto da cidade do México em apenas meia hora (2).

A cidade do México é conhecida por ter um dos piores trânsitos do mundo. Como é possível garantir uma entrega de cimento em qualquer ponto da cidade em apenas meia hora? Na década de 1990 a CEMEX implantou um pioneiro sistema para monitorar o trânsito da cidade. Ela distribui betoneiras em pontos estratégicos indicados pelo sistema. Quando recebe um pedido envia a betoneira que terá o menor tempo de chegada ao destino (isso 15 anos antes do surgimento do waze).

Na CEMEX a inovação não acontece em um canto isolado da organização. Ao contrário todos estão envolvidos e contam com uma estrutura com pessoas espalhadas em toda organização e que dedicam parte da sua jornada de trabalho para atuar como mentores da inovação.

  1. Google

O Google é uma as empresas de maior sucesso global. Em 2018 suas vendas atingiram US$ 136 bilhões e conta com cerca de 100 mil empregados diretos. Sua missão; “organizar a informação mundialmente e torná-la acessível a todos”.

O crescimento do Google foi vertiginoso com o lançamento de uma enorme variedade de produtos além do site de busca, Gmail, Google News, Orkut, Google Scholar, Google Books, Google Calendar, Chrome Android, e muitos outros (4).

A questão aqui não é destacar o formidável sucesso da empresa e sim comentar a sua cultura de inovação. Sem dúvida no Google a inovação é esperada vir de todas as pessoas e lugares da organização. O investimento em pessoal é intenso. Contratam os melhores e o clima interno é espetacular. Consistentemente escolhida como uma das melhores empresas (muitas vezes a melhor) para se trabalhar no planeta, a empresa valoriza seus funcionários.

Dá grande liberdade ao seu pessoal que pode utilizar até 20% do tempo para trabalhar em projetos de sua escolha (alguns produtos vitoriosos como Gmail surgiram a partir dessa iniciativa).

Considerações

Muito gestores buscam a inovação como uma forma de criação de valor da empresa. Apesar da busca dos gestores, as organizações inovadoras, no entanto, são raras. Assim o conhecimento de como uma organização pode se tornar inovadora pode dar uma importante contribuição na busca da inovação sistemática pela gestão das organizações.

A conclusão de que o programa captação de ideias a partir de todas as pessoas (Inovação Horizontal) é capaz de impulsionar a cultura interna de inovação (Meio Inovador Interno), poderá ser de utilidade para os gestores, especialmente os de empresas maduras que buscam a inovação como estratégia competitiva.

Este seria um caminho para as organizações se tornarem inovadoras. Abrir os canais de comunicação na busca da horizontalização das inovações, construindo um Meio Inovador Interno para favorecer tanto as inovações incrementais quanto as radicais, ou seja, o processo que denominamos como Inovação Horizontal.

O conceito de Inovação Horizontal como inovação a partir de todas as pessoas da organização, valoriza e motiva as pessoas que costumam ser fonte fundamental do êxito das organizações. Eggon João da Silva, um dos fundadores da WEG, ao se expressar sobre o sucesso de sua organização, declarou que: máquinas podem ser compradas, dinheiro pode ser conseguido por empréstimo, mas pessoas não podem ser compradas ou emprestadas e pessoas motivadas por uma ideia são a base do êxito da empresa.

 

Notas

  1. Robinson, Alan G.; Schroeder, Dean M. The idea-driven organization: unlocking the power in bottom-up ideas. Berrett-Koehler Publishers, 2014
  2. Gibson, R; Skarzynski, P. Inovação: prioridade número 1 – o caminho para transformações nas organizações. Elsevier: Rio de Janeiro, 2008
  3. Yasuda, Yuzo. 40 years, 20 million ideas: the Toyota suggestion system. Productivity Press, 1991
  4. Edelman, B., Eisenmann, T. Google Inc. Harvard Business Review, v.77, pg.96 108, 2011

Gestão / Gestão de Idéias / Negócios

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