18 de novembro de 2016 - Antonio Carlos Teixeira Alvares

INOVAÇÃO HORIZONTAL E AMBIDESTRIA

Inovação é normalmente entendida como a forma mais consistente de criação de valor das organizações. Em época de crise, a redução de custos, embora necessária, tem um limite que, ao ser ultrapassado, exaure a empresa. Uma companhia pode cortar custos, mas os lucros vêm mais rapidamente quando os produtos e serviços que a organização oferece são vistos pelos clientes como novos e desejáveis.

As organizações por outro lado, cada vez mais, começam a perceber que a inovação é fruto de um ambiente complexo. O Fórum FGV/inovação denomina o ambiente capaz de produzir sistematicamente inovações como Meio Inovador Interno, um ambiente que favorece o surgimento de iniciativas individuais e grupais, voltadas para a busca de novas soluções.

As inovações, conforme a sua magnitude, são classificadas como radicais ou incrementais.  As inovações radicais criam uma nova indústria ou mudam a base de competição da indústria existente e as incrementais ou sustentadoras introduzem melhorias nos produtos (ou processo) e estão alinhadas com as necessidades do consumidor.

As organizações inovadoras sustentáveis conseguem realizar, simultaneamente, tanto inovações incrementais que garantem a eficiência no curto prazo quanto as radicais mantendo a vantagem competitiva no longo prazo. Essas organizações foram denominadas por Tushman & O’Reilly (2002) como organizações ambidestras (a mesma denominação dada ao ser humano capaz de ser igualmente habilidoso com ambas as mãos).

Ambidestria 2

Como as inovações incrementais são comuns às organizações, poderia ser um pensamento subjacente que as organizações ambidestras seriam as que, apresentando inovações radicais passassem também a investir em inovações incrementais e não o contrario. Entretanto vários estudos mostram que uma organização originalmente focada em inovações incrementais pode também se tornar ambidestra com a produção consistente de inovações radicais.

Ambos os tipos de inovação, radical e incremental, são necessários e cumprem funções diferentes na empresa, as radicais estão associadas ao posicionamento estratégico da empresa quanto aos mercados em que atuam ou pretendem atuar, e as incrementais, à eficiência operacional.

Porém a convivência dos dois tipos de inovação numa mesma organização não costuma ser comum. A inovação radical tecnológica (não a organizacional) pressupõe uma área organizada de P&D, enquanto a inovação incremental sistemática demanda canais de comunicação abertos e administração participativa. Por outro lado, no passado, alguns autores renomados criticaram a estratégia incrementalista, com base na errônea suposição de que a melhoria contínua dos processos atuaria contra as inovações radicais. O incrementalismo é o pior inimigo da inovação, são palavras de Nicholas Negroponte, repetidas por Tom Peters (Peters, 1998, p.26).

O equívoco, foi pensar que houvesse confronto na gestão de inovações radicais e incrementais. Claro, elas demandam recursos diferentes, porém não há antagonismo.. Possivelmente o erro possa ser atribuído ao efeito conhecido como correlação reversa entre causa e efeito. As inovações incrementais em maior ou menor monta existem em todas as organizações sendo mais visíveis nas que não apresentam inovações radicais.  Admitir por causa disso que as inovações incrementais são inimigas das radicais é equivalente a concluir que o refrigerante zero provoca obesidade.  Muito pelo contrário, as inovações incrementais que trazem pequenos resultados são importantes, pois valorizam o hábito da mudança.

As inovações radicais e incrementais são complementares, cada qual cumprindo funções diferentes e importantes. As radicais que são menos freqüentes e exigem planejamentos de médio e longo prazo, renovam as empresas; as incrementais conferem-lhes eficiência no curto prazo, reduzindo custos, melhorando as condições de trabalho, dando prontas respostas aos clientes, entre outros resultados (Barbieri & Alvares, 2016).   Tushman e O’Reilly III (2002) denominam de organizações ambidestras as que conseguem obter vantagens competitivas operando simultaneamente no curto prazo enfatizando a eficiência e, no longo, as inovações de maior vulto e que envolvem maiores riscos. Esses autores apontam a importância fundamental da cultura interna dessas organizações.

Figura 1 – Organizações Ambidestras (promovem tanto inovações incrementais como radicais)

ambidestria

Fonte: adaptado de Tushnman e O’Reilly III (2002), p.106

Conforme pode ser verificado na Figura 1, as mudanças descontínuas provocadas pelas inovações radicais tem uma trajetória vertical – em pouco tempo trazem mudanças de grande magnitude. Já no caso das inovações incrementais as mudanças tem uma trajetória horizontalizada com mudanças de pequena magnitude ocorrendo ao longo do tempo.

As inovações incrementais também podem se consideradas horizontais em outro sentido uma vez que elas podem se originar de todas as pessoas da organização. Assim, inovação incremental ou mesmo radical proveniente da captação ideias de todos os funcionários pode ser denominada Inovação Horizontal.

 

Negócios

Comments

  • Caro amigo Teixeira. Excelente a tua colocação sobre inovações dentro do contexto de ser radical e incremental. Gostaria de saber qual é a tua visão sobre melhoria contínua e inovação incremental. No que diferem?. Se são a mesma coisa…
    Grande abraço ao amigo
    Guaragna

    • Antonio Carlos Teixeira Alvares disse:

      Caro Guaragna,
      Dada a definição de inovação do Fórum FGV:
      Inovação = Ideia + ação + resultado
      Melhorias continuas nada mais seriam do que inovações continuas, não há diferença conceitual.
      Com isso ficaria estabelecida uma ponte entre o dois importantes mundos o Estudo da Qualidade e o Estudo da Inovação com vantagens recíprocas.
      Grande abraço
      Teixeira

  • Haydèe Aguiar disse:

    Esclarecedor e, como sempre, bastante didático o artigo sobre Inovação Horizontal. Parabéns, professor Teixeira!.Abraços

  • Teixeira, muito interessante a matéria, parabéns.
    A sua trajetória de trabalho é fantástica, não só empresarial como acadêmica e também sua participação na FIESP.
    Abraços,
    Paulo

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